Nesta sexta, 15 de maio, por volta
das 18h estava na praça da Sé para ir a Moema, onde tinha consulta
agendada para as 19h15. Após 25 minutos de espera no ponto final de
um ônibus que não aparecia, e alguma oscilação, decidi buscar
outras alternativas. Um ambulante passou e nos disse que os
motoristas haviam entrado em greve novamente. Começou um burburinho…
Entraram, não entraram...
Fui até o início da fila perguntar
se tinham visto ônibus quando chegaram e horário. Havia saído um
às 17h30… Eram 18h25 e logo concluímos que dificilmente teria
esse ônibus. As pessoas acostumadas a pegarem essa condução,
diziam que o intervalo, em dias complicados, não passava de meia
hora...
Fui até o largo S. Francisco e nada
de ônibus. Decidi ir até a praça da Sé para tentar outras opções.
Nisso, começamos a ouvir alto-falantes, carro de som. Eram
professores da rede estadual de ensino, que estão em greve há 64
dias e começaram a se concentrar na região.
Incertezas… Pessoas dizendo que não
teria ônibus, alguns ônibus passando lentamente em outro sentido e
o trânsito começou a parar nas ruas próximas a Sé. Princípio de
caos. Foi quando alguém gritou:
– CULPA DA DILMA,
aquela safada!
Enquanto isso, calculei meu tempo e
achei que ainda dava para ir à consulta, apesar de arriscado, mas
também pensava em voltar para casa. Poderia ir até a Ana Rosa…
Nessa indefinição, resolvi andar pela Sé. Desci no metrô, pensei
em pegar para casa, mas a linha vermelha nesse horário é um horror
e hoje, exatamente hoje, faz 30 dias que passei por cirurgia
(retirada de vesícula). Não, não daria para encarar o
empurra-empurra no metrô. E eu nem levara meu atestado, pois com ele
poderia ir no vagão reservado, porém, mesmo esse, em horário de
pico é lotado e tem empurra-empurra…
Atravessei e fui até o outro lado da
Sé. Ao sair da estação, deparei-me com a tropa de choque preparada
para enfrentar bandi…, não, pera…
Andei mais um pouco e... outro
contingente da tropa de choque. Fui em direção ao som, pois, a essa
altura, decidira participar um pouco do movimento dos professores.
Andei mais e resolvi recuar
(deprimente demais olhar para vários lados e ver a tropa de choque
pronta para atacar professores e, sério, fiquei com medo...).
Voltei e em frente a Catedral tinha
mais um grupo de professores. Fiquei um pouco e decidi ir embora,
optando por pegar um ônibus direto para casa, mesmo que demorasse
para sair dali.
Nesse momento, o trânsito começava a
andar um pouco, muito lentamente, mas andava, assim como os
professores que andavam para chegar à Av. 23 de Maio.
Enfim entrei no ônibus e fui sentar
lá atrás.
Saímos. Andava um pouco, parava.
Andava um pouco, parava.
Ainda na Sé, em uma dessas paradas,
de repente, uma moça (uns 16 a 18 anos, aparentemente) que estava na
parte da frente do ônibus, gritou:
– Ai! Mãe, ele pegou meu celular!
– O que? - perguntou
a mãe. E a moça respondeu:
– Ele
passou e pegou meu celular! - e,
berrando mais alto: – É tudo CULPA
DA DILMA, aquela FDP do c#*lho!
Eu quero que ela morra!!!
Mãe e filha se levantaram, a mãe
pensou em ir atrás, o cobrador disse que não adiantava mais…
...
Aiaiaiai!!! Vamos lá!
Professores da rede estadual de ensino
de São Paulo estão em greve há exatos 64 dias! Repetindo: da REDE
ESTADUAL.
O psdb (des)governa esse Estado há 20
anos e 5 meses (descontemos 10 meses de quando Lembo, então do pfl,
assumiu após renúncia de Alckmin para se candidatar a Presidência).
Desses 19 anos e 7 meses, Alckmin
esteve à frente do Governo de São Paulo:
-
de 06 de março de 2001 a 01 de janeiro de 20031, quando cumpriu restante do mandato de Mario Covas, após seu falecimento;
-
de 01 de janeiro de 2003 a 31 de março de 2006 (quando renunciou e o vice Lembo assumiu);
-
de 01 de janeiro de 2011 a 01 de janeiro de 2015;
-
de 01 de janeiro de 2015 a ... ?
Ou seja, só Alckmin, ficou no poder
durante 9 anos e 1 mês, ou quase metade de todo mandato do psdb.
A luta dos professores da REDE
ESTADUAL de ensino, de responsabilidade do GOVERNO ESTADUAL de São
Paulo, que por sua vez tem como mandatário GERALDO ALCKMIN, é por
melhores condições de trabalho, o que inclui salários e políticas
educacionais.
Ou seja, a reivindicação é
direcionada a este que, de acordo com os professores, não cumpre
diretrizes educacionais e trabalhistas e desrespeita os
profissionais.
Quem mesmo? Geraldo Alckmin,
(des)governador do Estado de São Paulo.
Então, boa parte dessa categoria
profissional, utilizando-se de um instrumento legítimo de luta,
entrou em greve e, para que sejam ouvidos e mantenham o movimento
vivo e fortalecido, fazem assembleias periódicas. Isso inclui
passeatas, carreatas, andar pelas ruas, fechar trânsito, enfim,
utilizar variadas estratégias para pressionar e tentar obter sucesso
com suas reivindicações.
Por vezes, isso gera alguns
transtornos, como trânsito parado, mas, enfim, são profissionais
que merecem ser respeitados e terem sua luta respeitada.
Quando eventos assim ocorrem e a
população fica irritada, indignada, enfim, incomodada demais por
ter sua ida ou volta para casa/ trabalho/ escola/ faculdade, …,
então temos diversas reações e uma delas é buscar culpados.
O que aconteceu então? Uma voz na
multidão gritou: CULPA DA DILMA!
E Geraldo Alckmin, (des)governador do
Estado de São Paulo por mais de 9 anos, de quase 20 de seu partido
no poder, não é citado, não é lembrado por parte da população.
Voltemos à moça do ônibus.
Ela estava sentada à janela,
digitando em seu celular encostado na janela que estava aberta. Onde?
Na praça da Sé!
Quem mora em São Paulo sabe que, em
determinados lugares, às vezes combinados com horários, é
arriscado utilizar celular ou ostentar qualquer bem de valor. O
centro da cidade é um desses lugares. A praça da Sé fica no centro
da cidade.
(Sinceramente, fico brava em me
sentir refém disso, em não poder usar livremente meu celular ou um
tablet em determinados locais, mas, infelizmente, na nossa atualidade
é assim e precisamos cuidar de nossos objetos. Eu, por exemplo, no
centro da cidade, mantenho meu celular no silencioso e não atendo.
Se precisar usar, entro em uma loja. Em ônibus uso, olhando
atentamente ao redor e, inclusive nesse mesmo ônibus, mas não o
“colo” na janela, até porque já vi reportagem mostrando esse
tipo de furto/ roubo).
A postura da moça, em São Paulo é
identificada popularmente como: “está pedindo para ser roubada”.
Infelizmente foi isso. Infelizmente na terra (des)governada há 20
anos pelo psdb é assim.
Há algumas semanas notei que a base
fixa da pm na Sé não está mais lá. Notei também a falta de
policiamento ostensivo circulante.
Mas, hoje tinha um policiamento
excessivo! Então, por que, mesmo assim a moça foi roubada?
Porque o excesso de contingente de
policiais, incluindo tropa de choque, estavam ali por um único
motivo. Reprimir a criminalidade? Combater furtos/ roubos, assaltos…?
Não! Estavam ali porque PROFESSORES pacífica e legitimamente
ocupavam um espaço público.
Enquanto andava pela Sé, atenta a
(quase) tudo a meu redor, percebi a presença mais ostensiva de
pessoas que estavam ali para se aproveitar da situação e praticar
roubos/ furtos. Grande oportunidade, afinal, a “puliça” não
estava de olho neles…
E quem é mesmo responsável pelo
policiamento ostensivo? A pm. E a pm é responsabilidade de quem
mesmo? Do Governo Estadual. E quem é mesmo o governador? Geraldo
Alckmin, do psdb. Contra quem a população brada? Dilma (!!!???).
Podem dizer, referindo-se à duas
situações: – Mas foi apenas uma pessoa!
Sim, apenas uma pessoa, mas que
reflete a opinião e falsa percepção de muitas pessoas, alimentadas
diuturnamente pelo ódio a um partido e a um
Presidente e uma Presidenta
que ousaram inovar e governar também para desfavorecidos, para
excluídos de políticas públicas básicas. Ousaram, pela primeira
vez, olhar para a maioria da população e investir em políticas
para transformar suas vidas, levando-os a ascenderem, inclusive,
socioeconomicamente.
Nas duas situações, a
responsabilidade é do Estado.
Os professores estavam se manifestando
contra a (falta de) política educacional do governador Alckmin e a
moça foi roubada porque não havia policiamento ostensivo no local,
dentre outros fatores e,
também, porque faltam políticas de segurança pública.
Mas, para parcela da população, não
importa a quem compete o quê. Importa apenas reproduzir cegamente o
ódio que é cultivado diuturnamente por uma mídia ultrapassada,
conservadora, compromissada com as forças mais retrógradas
representadas por (pretensos) opositores que hoje estão fora do
poder ao qual
não conseguem retornar pelas vias legais. Unem-se e tentam por um
golpismo que às vezes beira o infantil.
Embora isso ocorra em algumas partes
do país, focarei aqui, onde vivo e onde essas duas situações
aconteceram.
Pobre São Paulo! Pobre paulista!2
2 A
frase ocorreu-me agora e considerei boa para fechar o texto. É
trecho de uma música do Ira!.
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